O que são habilidades motoras de alto nível?
Primeiramente, a avaliação de habilidades motoras de alto nível é um passo essencial para fisioterapeutas que desejam compreender a fundo o desempenho funcional de crianças que já caminham. Muitas vezes, a análise para por aí — mas será que andar sozinho é sinônimo de habilidade motora completa?
Se você ainda baseia suas avaliações motoras apenas no sentar, engatinhar e andar… temos um papo sério pra ter.
Especialmente se você atende crianças com paralisia cerebral nos níveis I e II do GMFCS — aquelas que andam, frequentam escola regular e querem correr, brincar e participar da vida.
Elas não precisam mais ser avaliadas pelo que já fazem bem. Elas precisam ser avaliadas pelo que ainda desejam conquistar.
E é aí que entra a avaliação de habilidades motoras de alto nível.
Porque inclusão de verdade não para no andar. Começa no participar.
Por que fazer a avaliação de habilidades motoras de alto nível?
Também é importante destacar que, enquanto a maioria dos profissionais ainda usa escalas como o GMFM básico, focadas em funções motoras grossas e básicas, a ciência já grita: essas escalas não capturam os desafios sutis — mas críticos — de quem já caminha.
E aqui entram ações como:
Correr com velocidade
Saltar obstáculos
Jogar bola
Subir escadas com ritmo e equilíbrio
Participar de jogos coletivos
Diante disso, essas habilidades definem o sucesso funcional e social da criança. Não medir isso é como avaliar um atleta olímpico só com teste de esteira.
Ferramentas para avaliar habilidades motoras complexas
Diante disso, um estudo na Developmental Medicine & Child Neurology analisou 11 ferramentas específicas para essa função. Entre elas, destacam-se:
Testes específicos:
- Muscle Power Sprint Test (MPST)
- 10m Shuttle Run Test
- Salto em distância e vertical
- Arremesso sentado
- Subida e descida de escadas cronometrada (TUDS)
Baterias completas:
- GMFM–Challenge Module
- Functional Strength Measure – CP
- TGMD-2
- PDMS
Diante disso, a maioria tem forte validade, boa confiabilidade e sensibilidade à mudança. Em outras palavras: funcionam na prática.
Quando aplicar a avaliação de habilidades motoras de alto nível?
Antes de sair aplicando o que está na moda, respire fundo e reflita:
Uma árvore de decisão simples pode mudar tudo:
Viabilidade clínica — Tem 10 minutos ou 1 hora?
Relevância funcional — A habilidade avaliada importa para a criança?
Instrumento original ou adaptado? — Foi feito pra PC ou adaptado?
Custo e estrutura — Precisa de equipamento caro?
Evidência científica — Tem estudos que sustentam a aplicação?
Você não precisa testar tudo. Mas precisa escolher com estratégia.

Exemplo prático: e se você errar na escolha?
Por exemplo, imagine avaliar uma criança que quer brincar de futebol, mas usar um teste focado em “sentar sem apoio”.
Você vai achar que ela está “ótima” — e deixar de intervir onde ela ainda precisa.
Agora imagine aplicar o MPST, e perceber que ela tem baixa potência muscular na corrida.
Você cria um plano focado em corrida, salto e aceleração — e ela finalmente consegue acompanhar os colegas no pega-pega do recreio.
Essa é a diferença entre avaliar por hábito… ou por propósito.
Por que isso faz de você um terapeuta melhor?
Porque o mercado valoriza quem entrega resultado.
E resultado vem de boas decisões clínicas — começando pela avaliação.
A verdade é simples (e dura):
⚠️ Quem só aplica o que aprendeu na graduação está ficando pra trás.
Sendo assim, atualizar-se é um diferencial competitivo.
Você quer ser só mais um terapeuta… ou o profissional que todos indicam?
Quais são os destaques?
Validade: A maioria das ferramentas avaliadas apresentou forte validade para o público-alvo. Ou seja, elas realmente medem o que se propõem a medir.
Confiabilidade: Os testes MPST, 1095mST, TUDS e 10mSRT mostraram bons resultados. Já os testes de salto e arremesso ainda carecem de estudos mais robustos.
Sensibilidade à mudança: A maioria dos testes individuais respondeu bem a intervenções terapêuticas, com exceção do salto vertical. Entre as baterias, apenas o GMFM–Challenge teve dados de sensibilidade à mudança disponíveis.
E na prática clínica?
Na Habilistar, recebemos muitas crianças com paralisia cerebral que já caminham, sobem escadas, participam da escola e querem jogar futebol, brincar de pega-pega ou aprender a dançar. Esses são os desafios funcionais reais – e, por isso, avaliar com instrumentos sensíveis a essas demandas é essencial para traçar bons objetivos terapêuticos.
Quando avaliamos apenas com escalas que medem sentar ou andar, podemos cair no erro de achar que “não há mais o que melhorar”. Mas há — e muito!
Conclusão
Em resumo, aavaliação de habilidades motoras de alto nível é essencial para garantir que a intervenção terapêutica acompanhe o desenvolvimento funcional da criança. Quanto mais direcionado o plano terapêutico, maiores as chances de sucesso nas atividades do dia a dia.